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A Neurociência explica o novo vírus social: Bets e apostas esportivas.

Somos tâo manipuláveis quanto um pombo.

26 de setembro de 2024

Recentemente as apostas esportivas ganharam uma popularidadeexplosiva, resultando no aumento de comportamentos extremos entre os apostadores. Porém, por trás desse fenômeno, há um processo neurobiológico mais profundo impulsionado pelo sistema de recompensas do cérebro e pelo papel da
dopamina, conhecida como a "molécula do desejo".

A Conexão com a Dopamina: Por que as Apostas se Tornam Viciantes

Quando uma pessoa aposta e ganha, seu cérebro experimentauma liberação de dopamina, um neurotransmissor associado à busca pelo prazer e recompensa. Essa sensação de prazer reforça o comportamento, levando a uma
busca constante para reviver essa sensação. Com o tempo, o ambiente hiperestimulante desse ciclo repetido de apostar para buscar o “pico” da dopamina leva ao desenvolvimento de comportamentos compulsivos.

Esse processo é muito semelhante a como outros tipos devícios se desenvolvem. Seja no jogo, no uso de substâncias, no uso de tecnologia ou até mesmo no trabalho excessivo, o sistema de recompensa do
cérebro fica condicionado a buscar atividades que prometem uma explosão de dopamina, independentemente de seus potenciais danos. A imprevisibilidade, intrínseca às apostas esportivas — a possibilidade de ganhar grande — torna essa compulsão ainda mais forte.

🎲 A aleatoriedade destas apostas, ou seja as expectativas não lineares, irregulares e inesperadas (como ganhar uma aposta após uma série de perdas) funcionam como reforçadores poderosos, aumentando o desejo de continuar apostando.

 

A Ciência por Trás do Reforço Intermitente: O Experimento de B.F. Skinner na década de 60

A natureza viciante das apostas e do jogo pode ser rastreadaaté experimentos psicológicos fundamentais. Um estudo particularmente significativo foi conduzido por B.F. Skinner, um cientista comportamental, na
década de 60. Skinner explorou o reforço comportamental usando pombos em uma série de experimentos que fundamentaram a compreensão do conceito de reforço intermitente.

Em seus estudos, Skinner colocou pombos em uma caixa, conhecida como "Caixa de Skinner", onde eles poderiam bicar uma alavanca para receber comida. No entanto, ao invés de fornecer alimento toda vez que a alavanca era acionada, Skinner implementou um sistema de recompensas aleatórias e imprevisíveis — às vezes a comida aparecia após uma única bicada, outras vezes após várias bicadas, e às vezes não aparecia de forma alguma. Esse reforço intermitente levou os pombos a desenvolverem comportamentos compulsivos, bicando a alavanca constantemente na esperança de receber a recompensa. Com base nestes experimentos, o maior fabricante de máquinas caça-niqueis no mundo remodelou a lógica das suas máquinas que são as atualmente usadas em todo o mundo.

Esse conceito de aleatoriedade amplifica a expectativa de maneira muito semelhante às Bets atuais, pois nelas é possível um sem número de combinações aleatórias nos jogos propostos. A incerteza de quando (ou se) a recompensa virá cria um ciclo contínuo de busca e desejo, que é a base do desenvolvimento do comportamento viciante. À isso podemos tratar com similaridade a um looping infinito do ciclo dopaminérgico para aquela proposta de prazer.

As Consequências Sociais: Mais do que Apenas uma Aposta

Embora a base neurológica do vício em apostas seja clara, asconsequências vão muito além do indivíduo. Dados do Banco Central do Brasil (BACEN), em Agosto de 2024, aproximadamente 3 Bilhões de reais foram gastos nas Bets somente por beneficiários do Bolsa Família. O entusiasmo por apostar, combinado com acompulsão cerebral para buscar recompensas, pode levar a perdas financeiras devastadoras.

 

🧠 O seu cérebro, emocionalmente, não sabe diferenciar a utilização do dinheiro.

 

Se pode se não pode, se é muito ou se é pouco. Ele apenas quer o prazer daquele estímulo ao desejo e automaticamente a busca por esse desejo vai reduzir o desejo pelas outras coisas como trabalho, sexo e envolvimento social por exemplo.

E não é simples de sair, assim como outros ciclos viciosos que naturalmente os seres se envolvem.

Muitos apostadores se veem presos neste ciclo de perder dinheiro e buscar recuperá-lo através de novas apostas — um fenômeno conhecido como "chasing losses" (perseguir perdas).
E qual a escala disso? Infinita! Isso pode escalar para a ruína social. Inicialmente contribuindo para o estresse, ansiedade e até depressão.
Além disso, o impacto atinge famílias e comunidades. Atensão causada por dificuldades financeiras e o estresse relacionado ao vício podem levar a rompimentos familiares, problemas de relacionamento e isolamento
social. A necessidade constante de se engajar em atividades de apostas, combinada com o fardo psicológico da perda e do desespero, muitas vezes resulta em negligência de responsabilidades pessoais e profissionais.

É possível Entender e Combater o Vício em Apostas

Entender o funcionamento básico do seu cérebro, e omecanismo por trás do vício em, proporciona insights importantes sobre por que é tão difícil para as pessoas parar de apostar.
A principal forma, entendendo que o seu cérebro está em carência de um ciclo alto de dopamina, é a busca por fazer a substituição dos estímulos. Afastar-se daquele indesejável, iniciando a inclusão de novos hobbies simples ou atividades que também estimulem o seu cérebro a ter prazer. Mas este é um assunto que carece de um diagnóstico terapêutico, acompanhamento profissional e possivelmente terapias específicas.


⚠️ Entenda: O Cérebro e a biologia humana não funcionam com "Faça Isso para acontecer aquilo." Carecem de tempo e duração, uns mais outros menos.

 

 

Apostar pode começar como um passatempo divertido, mas seus mecanismos neuroquímicos mais profundos têm o potencial de causar danos duradouros, tornando vital abordar esse tema com cautela e compreensão dos riscos envolvidos.

 

Estamos diante de um novo vírus. Este agora é social, precisa ser regulado e também pode matar. Ou entendemos isso ou seremos manipulados como pombos.